Gilberto Gil talvez nunca tenha caminhado 300 quilômetros em nome da fé, mas foi ele quem escreveu na célebre musicar Andar Com Fé que “andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”. Em todo o Brasil e também aqui em Itapira existem pessoas que levam este refrão muito a sério. Que o digam os 27 romeiros que de 12 a 18 de outubro passado participaram da 21ª Romaria a pé, até a cidade de Aparecida.
A Cidade ouviu cinco deles, exatamente aqueles que passaram pela experiência pela primeira vez. São eles José Antonio Sartoratto, o Bi, Thiago Pompeu, José Marcio Villas Boas, José Emílio Gonçalves e José Benedito Gonzaga Cintra Junior. Todos eles contam histórias de superação e de uma devoção religiosa sem a qual, admitem, dificilmente conseguiriam enfrentar 300 quilômetros de estradas poeirentas, embaixo de um sol causticante, subindo e descendo morro.
Dos cinco o que mais sofreu foi o designer gráfico Thiago Pompeu, por sinal o mais jovem do grupo. Os colegas contam que com cerca de 30 quilômetros de caminhada os joelhos do rapaz já apresentava inchaço. “ Eu tenho hábito de praticar esportes com ciclismo e natação, que são diferentes de caminhada, talvez por isso tenha sofrido mais”, relatou Pompeu. Quando a dor apertava ele seguia no ônibus de apoio. “Não me arrependo em nada. Pelo contrário. Sou todo agradecimento. Foi uma experiência pessoal muito rica, me mostrou um outro lado da vida, muito positiva, elevei minha fé”, contou.
O motorista José Marcio Villas Boas de 44 anos cumpriu com a caminhada sua segunda penitência neste ano. Mineiro de Pedralva, no circuito das Águas do vizinho estado, ele pedalou na Semana Santa cerca de 600 km, 300 na ida e 300 na volta até a cidade de Natércia, para pagar uma promessa. Villas Boas acha que este primeiro roteiro o ajudou a estar bem preparado para enfrentar o percurso a pé concluído recentemente. “ Fiz caminhadas com outros colegas que também participaram da Romaria e isso tudo acho que me ajudou. Gostei muito, aprendi muita coisa interessante e cumpri um desejo que tinha em participar deste ato de fé. Estou muito feliz e penso em repetir a dose no ano que vem”, disse. O colega a que se referiu nas caminhadas é José Emílio Gonçalves de 59 anos, que tem uma barbearia na avenida Brasil, nos Prados. Apesar da idade, Zé Emílio não se furta a uma boa caminhada. Esta para Barão Ataliba Nogueira uma semana antes do início da Romaria, (da qual Villas Boas também participou e que lhe valeram bolhas nos pés como advertência do que viria pela frente) segundo ele “foi café pequeno”. “Já fui até a Serra Negra, sempre caminhando”, revelou. Além do quesito “renovação da fé”, Zé Emílio disse que a Romaria lhe serviu para “dar uma clareada na mente” e também pensa em voltar no ano que vem. “Só tenho a agradecer por ter dado tudo certo”, festejou.
O contador José Benedito, o popular Benê, disse que diferentemente do colega barbeiro apesar de realizar caminhadas regularmente nunca tinha passado pela cabeça enfrentar um desafio do porte da romaria. Ele disse que voltou muito esgotado, mas satisfeito. “ Você tira lições valiosas de uma empreitada desta natureza. Além de uma necessária reciclagem do ponto de vista espiritual, você passa a enxergar muitas questões com outro ângulo e rever alguns conceitos. Eu, no meu caso, tinha uma certa implicância com boteco de beira de estrada. Depois do passeio voltei abençoando cada um que encontramos pelo caminho”, avaliou.
Gratidão
No caso do servidor municipal José Antonio Sartorato, o Bi, foi o pagamento de uma promessa que o levou a encarar a aventura. Ele relatou que seu filho, João Sartorato Neto, 15 anos, ao sofrer uma queda de bicicleta ficou em coma durante cinco dias e viveu uma recuperação problemática. “ Um dos médicos que cuidou dele falou da participação numa edição da Romaria e eu coloquei na cabeça, ao ver meu filho recuperado, que tinha um compromisso de gratidão com Deus e decidi encarar o desafio. Não vou dizer que estava fisicamente preparado. Faço caminhadas regularmente, ainda apito jogo de futebol, enfim, tenho um preparo básico. Mas nada que anime em caminhar 300 km, média de 50 km por dia. Mas o preparo psicológico foi preponderante. A vontade, a determinação, principalmente a fé, falaram mais alto. Voltei rejuvenescido”, declarou.
Thiago, em foto feita perto de Conceição dos Ouro (MG)
Zé Emílio: bem preparado
José Marcio: segunda peripécia no ano
Benê: revendo conceitos